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Teletrabalho garante mais estabilidade na vida pessoal e profissional dos Servidores

19 de junho de 2023

Os primeiros casos divulgados de um suposto novo vírus na cidade chinesa de Wuhan, em novembro de 2019, não despertou a atenção de quase ninguém no resto do Planeta. Entretanto, o avanço no número de contaminados e das mortes começou a colocar a Organização Mundial de Saúde em alerta. Um sinal que foi ampliado no começo do ano seguinte, quando o termo pandemia entrou na vida de bilhões de pessoas, trazendo com ele mudanças jamais imaginadas pela maioria da população.

Com a Covid-19 se alastrando pelos continentes, os governos tomaram a decisão de promover o confinamento na tentativa desesperada de conter a proliferação do vírus. O lockdown alterou a rotina do mundo do trabalho. O home office, privilégio de uma minoria de profissionais, virou regra, inclusive para Servidores Públicos. Essa mudança gerou conseqüências dentro do organograma do funcionalismo.

A Procuradoria Geral do Estado do Rio Grande do Sul (PGE-RS) adotou o modelo com eficiência, obtendo resultados satisfatórios. Mesmo com o controle da pandemia da Covid-19, a providência segue válida nas unidades. Embora já regulamentado pelo Governador no âmbito do Poder Executivo Estadual, a PGE vem adotando a prorrogação das Ordens de Serviço. No entanto, existe uma expectativa do SINDISPPGE pela regulamentação oficial.

Impacto reduzido

O home office impactou toda a estrutura da PGE, mas a medida foi mais sentida em uma das unidades do interior do Estado. Em agosto de 2022, a Procuradoria encerrou as atividades da 12ª PR-Ijuí. A decisão veio na esteira de uma reorganização do órgão. Conforme o Analista Jurídico Marco Túlio Thomé da Cruz, que trabalhava na regional, o motivo da extinção seria em razão de não contar com um número expressivo de procuradores.

Em outros tempos, essa alteração promoveria uma mudança drástica na vida dos Servidores. Teriam que mudar de cidade para a unidade onde seriam alocados ou, dependendo da distância, fazer um bate e volta diário ou semanal, o que nem sempre é viável e, certamente, aumentaria os custos. Com o remoto, essa situação foi contornada.

A maioria da equipe de Ijuí foi transferida para de Passo Fundo, entretanto sem a necessidade de mudar de cidade. Marco Túlio Cruz foi um deles. Ele conta que se não fosse a opção do Teletrabalho, poderia ter pedido exoneração do cargo: “Se tivesse de mudar para Passo Fundo, talvez aventasse a possibilidade de procurar outro emprego. Seria muito difícil. De repente, passar dois dias por quinzena, tudo muito complicado, e que comportaria muito custo”, informa o Analista Jurídico.

Além de agregar na estabilidade profissional, a manutenção do remoto também conta pontos para planejar a vida pessoal.

 “Eu continuo morando em Ijuí, pois aqui tenho minha esposa e duas filhas, uma de 12 anos e outra de cinco. Seria muito difícil alterar a residência da família, especialmente porque minha esposa é odontóloga. Ela tem toda uma estrutura de trabalho, incluindo clientela em Ijuí. Mudar de residência afetaria a profissão dela. Ainda, temos nossos pais que moram aqui e precisam da gente, assim como nós deles, em virtude das crianças”, ressalta Marco Túlio Cruz.

Na década passada, a Técnica Administrativa da PGE-RS Liliana dos Santos vivia um bom momento profissional e pessoal em Porto Alegre. A única vírgula é que o marido dela trabalhava alguns dias da semana na Universidade Regional do Noroeste do Estado (Unijuí). Conforme ela, essa rotina diminuía a qualidade de vida do casal por dois motivos: a longa viagem (as cidades são separadas por quase 400 km) e as mudanças de horários dele a cada semestre, o que levava a constantes readaptações.

 “Resolvi buscar informação quanto à minha remoção, logo descobri que havia um Técnico Administrativo na regional de Ijuí interessado em voltar a morar na Capital, ou seja, a troca seria fácil de concretizar”, explica a Servidora. Um ano e alguns meses depois, Liliana engravidou mostrando o acerto da decisão.

Porém, a notícia da extinção da regional deixou a profissional preocupada. Eles seriam novamente obrigados a conviver com a distância e agora com um filho? Graças à opção do Teletrabalho, a vida pessoal de Liliana não precisou de ajustes. Mas o susto foi grande, como ela mesma conta.

“Meu filho tem quase cinco anos. Ele frequenta a escola que pertence a Unijuí, onde usufruímos de ótimo desconto na mensalidade. Meu marido já estabilizado no cargo de professor na universidade. Uma ótima rede de apoio familiar para a criação do nosso filho. Seria um pavor mudar de cidade, ainda mais sabendo que perderia a estrutura organizada de vida que temos e sem nenhuma melhoria em termos salariais. Como a maioria dos Servidores também eram estabelecidos aqui com suas famílias, a possibilidade do trabalho remoto fez a gente se apegar na ideia de ficar nesta condição. Assim, foi o que aconteceu”, resume Liliana.

Prós e contras

Apesar do remoto ser a melhor alternativa para os Servidores da extinta unidade de Ijuí, eles mesmos gostam de pontuar que nem tudo são flores. Marco Túlio Cruz, por exemplo, gosta de ver os dois lados da moeda para analisar o Teletrabalho. “Não ter uma sede na qual possamos encontrar os colegas e ter uma dinâmica mais intensa é ruim, além do que a carga de trabalho teve um aumento considerável. De outro lado, operar remotamente oportuniza uma organização diferenciada de horários, que, embora, não comporte uma redução, permite uma atenção familiar maior. No que diz respeito ao trabalho em si, não há prejuízo, pois os contatos são permanentes com as equipes, colegas e procuradores, a coisa funciona”, resume o Analista Jurídico.

Liliana considera que o Teletrabalho permite passar mais tempo com a família. “Estou no quarto e caminho poucos metros e em segundos estou com minha família. Em caso de necessidade estou perto, consigo administrar uma parte do trabalho para fazer à noite, se os colegas estiverem de acordo. O que eu faço exige que eu trabalhe logo cedo da manhã, mas, mesmo assim, não é um horário engessado como quando batia ponto. Prevalece a entrega do meu trabalho e não o horário. Se entrego no tempo que não prejudico o trabalho de ninguém e o fluxo exigido pela regional, ficam satisfeitos”, comemora.

Para ela, o modelo precisa ser aperfeiçoado constantemente. Um dos perigos é a desmotivação profissional. Com o presencial, os Servidores conversavam e serviam como um ponto de apoio para os demais. Sozinhos em seus “escritórios” particulares a situação é mais delicada: “Temos de descobrir formas de superar isso. Seja buscando interação pelos meios de comunicação que temos disponíveis. Seja colocando uma música para animar o ambiente vazio e silencioso por horas e horas. Com o trabalho totalmente remoto, se perde o convívio com os colegas. A troca, a afetividade, as amizades, o olho no olho. O que, ao meu ver, é  muito importante quando falamos em motivação, alegria de trabalhar e crescimento pessoal e profissional”, comenta a Servidora da  PGE.

Para Liliana, a disciplina é essencial também para o Servidor não trocar os momentos de interação com a família por planilhas. “Você é o seu único fiscal. Se você não se disciplina, se perde. Não cumpre durante o dia. Aí o trabalho está ali a poucos metros de você pra te lembrar na hora que está jantando com sua família que está devendo e, quando vê, passa o dia em volta disso. Tudo se mistura, o pessoal e profissional. Ainda, a própria administração perde a noção do tempo que você já trabalhou. Nessa ‘perda de visão’ vem o perigo da demanda aumentar”.

Sem reajuste há quase uma década, a questão financeira sobe no nível de importância, como destaca Marco Túlio da Cruz: “A PGE poderia pensar numa ajuda de custo. Veja bem, com o home office e o fechamento da nossa regional, não há mais aluguel nem condomínio. Não há mais funcionários para carga e serviço de limpeza/apoio. As máquinas são todas nossas, assim como o pagamento da luz e da internet. Ou seja, acredito que a PGE teria condições de prestar um pequeno auxílio financeiro com os custos envolvidos”. O Analista Jurídico também pede um olhar especial para o aperfeiçoamento dos softwares. “Deveriam investir em alguns sistemas, como o CPJ, principalmente este, que tem dado muito problema, gerando atrasos para todos”, sublinha. 

Velhos e Novos tempos da Regional de Ijuí

Sete Servidores da unidade de Ijuí foram transferidos para Passo Fundo. Outros cinco foram lotados em outros lugares onde também trabalham de forma remota.

A regional de Ijuí, assim como Passo Fundo, tinha o foco nas ações de saúde. Na área, os Servidores trabalham com demanda em que as partes buscam um serviço frente ao Poder Público, no caso, o Estado.

São ações em que se o cidadão pede medicamentos, cirurgias, exames, consultas médicas. “Temos muitos processos de home care e de tratamentos de portadores de autismo. Ainda existem as ações de ressarcimento de valores ajuizadas perante a União, para obter de volta dinheiro do Estado”, sintetiza Marco Túlio da Cruz.

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